sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A Igreja que não existe mais (4)
por Ariovaldo Ramos
O que existe?
- A Comunhão dos santos existe na realidade da Igreja invisível. Mas, que relevância tem na história uma igreja invisível?
- Ajuntamentos cúlticos – há os que procuram se pautam pela Bíblia, e os que nem tanto.
- Instituições – (muitas e cada vez mais) há as que ainda tentam ser apenas um odre para o vinho, e as que nem tanto.
- Discursos sobre Cristo e sua obra – há os que falam sobre Jesus, segundo a Bíblia, e os que nem tanto.
- Conversões pessoais – há as que trazem marcas do Novo Testamento, e as que nem tanto.
- Missionários – há os que pregam a Cristo, sua morte e ressurreição, e os que nem tanto. O apoio ao missionário está mais para esmola do que para sustento.
- Ação social – há as que querem emancipar o pobre, por amor a Cristo, e as que nem tanto.
- Pastores e Lideres – há os que tentam alcançar o padrão dos presbíteros do Novo Testamento, e os que tanto menos.
- Títulos - em profusão, constratanto com a escassez de irmãos.
- Orações - principalmente, por necessidades materiais, sociais e de cura, que parecem não ser respondidas, pelo menos, não a contento.
- Milagres – (mas pessoais) a misericórdia divina continua se manifestando, porém, não se entende mais o princípio de sua ação.
- Ministérios – há os que são ministros (servos), e os que nem tanto.
- Riqueza – Instituições estão cada vez mais ricas, e há os que usufruem da mesma.
- Irmãos e irmãs que amam a Cristo e a Igreja, mas que estão cada vez mais confusos sobre o que estão assistindo – e há, cada vez mais, um amor em crise.
E ecoa a voz do Cristo: Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra? (Lc 18.8)
Talvez, ainda haja tempo de pedir perdão!
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
A Igreja que não existe mais (3)
Pelo que orava a Igreja do Novo Testamento?
“Mas eles ainda os ameaçaram mais, e, não achando motivo para os castigar, soltaram-nos, por causa do povo; porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera; pois tinha mais de quarenta anos o homem em quem se operara esta cura milagrosa. E soltos eles, foram para os seus, e contaram tudo o que lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos. Ao ouvirem isto, levantaram unanimemente a voz a Deus e disseram: Senhor, tu que fizeste o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles há; que pelo Espírito Santo, por boca de nosso pai Davi, teu servo, disseste: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse. Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para curar e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Servo Jesus. E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus.” At 4.21-31
Oravam para que nenhum sofrimento os impedisse de glorificar a Cristo, de anunciá-lo com coragem e determinação – o Cristo que eles viviam diariamente pela fraternidade solidária. Oravam por missão!
Para além da Igreja que está sob perseguição, não há sinal de que essa Igreja ainda exista!
por Ariovaldo Ramos
“Mas eles ainda os ameaçaram mais, e, não achando motivo para os castigar, soltaram-nos, por causa do povo; porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera; pois tinha mais de quarenta anos o homem em quem se operara esta cura milagrosa. E soltos eles, foram para os seus, e contaram tudo o que lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos. Ao ouvirem isto, levantaram unanimemente a voz a Deus e disseram: Senhor, tu que fizeste o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles há; que pelo Espírito Santo, por boca de nosso pai Davi, teu servo, disseste: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse. Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para curar e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Servo Jesus. E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus.” At 4.21-31
Oravam para que nenhum sofrimento os impedisse de glorificar a Cristo, de anunciá-lo com coragem e determinação – o Cristo que eles viviam diariamente pela fraternidade solidária. Oravam por missão!
Para além da Igreja que está sob perseguição, não há sinal de que essa Igreja ainda exista!
por Ariovaldo Ramos
Lição de Ética
Domingo ensolarado em Salvador, exatamente há 40 anos atrás. Dia 16 de Novembro de 1969, o estádio da Fonte Nova na capital baiana onde morava seria o palco do segundo maior evento do ano.
O primeiro tinha ocorrido alguns meses antes, acho que em Junho, com o primeiro passo na Lua – “um pequeno passo para um homem e um grande passo para a Humanidade”, lembra? O mundo parou para ver Neil Armstrong realizar o feito!
O mundo estava parando mais uma vez em 1969 para assistir ao milésimo gol de Pelé. Eu já tinha ido a Recife e a João Pessoa acompanhando a tournée do Santos, na época o melhor time do mundo. Acreditava que os 4 gols faltantes seriam feitos naquela série de amistosos no Nordeste — contra o Santa Cruz, no Recife dia 12 ou ao enfrentar o Botafogo da Paraíba no dia 14. Mas ele só fez 3 nesses dois jogos. Na Paraíba ele virou goleiro pois a coisa estava fácil demais e suspeitou da armação para que deixassem entrar qualquer bola que chutasse. No dia do jogo contra o meu querido Esporte Clube Bahia só faltava um gol!
O milésimo gol não foi marcado, mas foi um dia marcante para mim. Aprendi uma grande lição sobre Ética e Valores nesse dia.
Já no meio do segundo tempo Pelé driblou 2 adversários, desviou do goleiro e chutou para marcar. A bola estava a um palmo da linha fatal quando não se sabe de onde surgiu um pé que impediu o gol. Era o Nildo, zagueiro central do Bahia que se esforçou para tirar a bola e ouviu a maior vaia da história do futebol até essa época. Foi vaiado por quase 100 mil pessoas que lotavam o estádio em sua maioria torcedores do próprio Bahia.
Senti um engasgo na garganta naquele momento. Tinha o grito de Gol preso, mas decidi aplaudir o Nildo. Ele estava fazendo o que era correto, era pago para impedir que a bola entrasse nas redes do seu time, mesmo que fosse o tão desejado milésimo gol de Pelé.
Nildo virou o anti-herói do espetáculo, quase foi demitido no dia seguinte, mas tornou-se meu herói particular. Na hora da verdade, temos de fazer o que é certo e honrar nosso trabalho, mesmo que a gente corra o risco de levar uma vaia de 100 mil pessoas.
Parabéns, Nildo! Você não fez corpo mole, foi corajoso e valorizou ainda mais o gol que Pelé finalmente marcou na quarta feira seguinte, dia 19 de Novembro, contra o Vasco da Gama, no Maracanã.
Via Blogdolider
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
A Igreja que não existe mais (2)
por Ariovaldo Ramos
“Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.” Tg 5.14-15
Os membros da comunidade do Cristo não precisavam orar por cura física, bastava procurar os presbíteros: lideres eleitos pelo povo, a partir de suas qualidades como cristãos (1Tm 3.1-7); que eles ungiriam com óleo, que representa a ação do Espírito Santo, porque é o Espírito Santo, quem unge e cura (Lc 4.18), e a pessoa seria curada; claro, sempre segundo a vontade do Senhor, porque essa é a regra de ouro: “Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu." (Mt 6.10)
Os crentes em Jesus de Nazaré, não precisavam fazer varredura espiritual para ver se tinham qualquer problema, parecido com o que hoje é chamado de maldição hereditária, ou similar. A oração dos presbíteros ministrava o perdão de Deus, conquistado por Cristo na cruz e na ressurreição.
Deus havia respondido todas as orações por cura física pela instituição de presbíteros, que tinham a autoridade para ministrar o poder de Cristo sobre a enfermidade, segundo a vontade de Deus, dependendo, portanto, apenas, do que o Altíssimo tivesse decidido sobre a pessoa em questão.
Essa Igreja não existe mais!
Continua.
“Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.” Tg 5.14-15
Os membros da comunidade do Cristo não precisavam orar por cura física, bastava procurar os presbíteros: lideres eleitos pelo povo, a partir de suas qualidades como cristãos (1Tm 3.1-7); que eles ungiriam com óleo, que representa a ação do Espírito Santo, porque é o Espírito Santo, quem unge e cura (Lc 4.18), e a pessoa seria curada; claro, sempre segundo a vontade do Senhor, porque essa é a regra de ouro: “Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu." (Mt 6.10)
Os crentes em Jesus de Nazaré, não precisavam fazer varredura espiritual para ver se tinham qualquer problema, parecido com o que hoje é chamado de maldição hereditária, ou similar. A oração dos presbíteros ministrava o perdão de Deus, conquistado por Cristo na cruz e na ressurreição.
Deus havia respondido todas as orações por cura física pela instituição de presbíteros, que tinham a autoridade para ministrar o poder de Cristo sobre a enfermidade, segundo a vontade de Deus, dependendo, portanto, apenas, do que o Altíssimo tivesse decidido sobre a pessoa em questão.
Essa Igreja não existe mais!
Continua.
Parábolas sobre Deus
Rubem Alves
Algumas pessoas olham através da vidraça, discutem sobre uma casa que estão vendo, ao longe.
Uma das pessoas diz que aquela casa é habitada por um nobre, de hábitos aristocráticos e conservadores. Uma outra diz o contrário, que lá mora um operário, membro do sindicato, revolucionário. Uma terceira diz que os dois primeiros estão errados: ninguém mora na casa. Ela está vazia. Pedem a minha opinião. Eu me aproximo, eles apontam através do vidro, na direção da casa. Olho, olho, e concluo que alguma coisa deve estar errada com os meus olhos. Eu não vejo casa alguma. O que eu vejo são os reflexos do meu próprio rosto, nos vidros da vidraça...
Diz o Alberto Caeiro que pensar em Deus é desobedecer a Deus. Se Deus quisesse que pensássemos nele ele apareceria à nossa frente e diria: ‘Estou aqui!’ Mas isso nunca aconteceu. William Blake falava em ‘ver a eternidade num grão de areia...’ A eternidade se revela refletida no rio do tempo. Já tive uma paciente que achou que estava ficando louca porque viu a eternidade numa cebola cortada! Cebolas, ela já as havia cortado centenas de vezes para cozinhar. Para ela cebolas eram comestíveis. Mas, num dia como qualquer outro, ao olhar para a cebola que ela acabara de cortar, ela não viu a cebola: viu um vitral de catedral, milhares de minúsculos vidros brancos, estruturados em círculos concêntricos, onde a luz se refletia. Eu a tranqüilizei. Não estava louca. Estava poeta. Neruda escreveu sobre a cebola ‘rosa de água com escamas de cristal...’
Pessoas há que, para terem experiências místicas, fazem longas peregrinações a lugares onde anjos e seres do outro mundo aparecem. Eu, ao contrário, quando quero ter experiências místicas, vou à feira. Cebolas, tomates, pimentões, uvas, caquís e bananas me assombram mais que anjos azuis e espíritos luminosos. São entidades assombrosas. Você já olhou para elas com atenção?
Penso que Deus deve ter sido um artista brincalhão para inventar coisas tão incríveis para se comer. Penso mais: que ele foi gracioso. Deu-nos as coisas incompletas, cruas. Deixou-nos o prazer de inventar a culinária.
Místicos e poetas sabem que o Paraíso está espalhado pelo mundo - mas não conseguimos vê-lo com os olhos que temos. Somos cegos. O Zen Budismo fala da necessidade de se ‘abrir o terceiro olho’. Repentinamente a gente vê o que não via! Não se trata de ver coisas extraordinárias, anjos, aparições, espíritos, seres de um outro mundo. Trata-se de ver esse nosso mundo sob uma nova luz.
via Pavablog
Algumas pessoas olham através da vidraça, discutem sobre uma casa que estão vendo, ao longe.
Uma das pessoas diz que aquela casa é habitada por um nobre, de hábitos aristocráticos e conservadores. Uma outra diz o contrário, que lá mora um operário, membro do sindicato, revolucionário. Uma terceira diz que os dois primeiros estão errados: ninguém mora na casa. Ela está vazia. Pedem a minha opinião. Eu me aproximo, eles apontam através do vidro, na direção da casa. Olho, olho, e concluo que alguma coisa deve estar errada com os meus olhos. Eu não vejo casa alguma. O que eu vejo são os reflexos do meu próprio rosto, nos vidros da vidraça...
Diz o Alberto Caeiro que pensar em Deus é desobedecer a Deus. Se Deus quisesse que pensássemos nele ele apareceria à nossa frente e diria: ‘Estou aqui!’ Mas isso nunca aconteceu. William Blake falava em ‘ver a eternidade num grão de areia...’ A eternidade se revela refletida no rio do tempo. Já tive uma paciente que achou que estava ficando louca porque viu a eternidade numa cebola cortada! Cebolas, ela já as havia cortado centenas de vezes para cozinhar. Para ela cebolas eram comestíveis. Mas, num dia como qualquer outro, ao olhar para a cebola que ela acabara de cortar, ela não viu a cebola: viu um vitral de catedral, milhares de minúsculos vidros brancos, estruturados em círculos concêntricos, onde a luz se refletia. Eu a tranqüilizei. Não estava louca. Estava poeta. Neruda escreveu sobre a cebola ‘rosa de água com escamas de cristal...’
Pessoas há que, para terem experiências místicas, fazem longas peregrinações a lugares onde anjos e seres do outro mundo aparecem. Eu, ao contrário, quando quero ter experiências místicas, vou à feira. Cebolas, tomates, pimentões, uvas, caquís e bananas me assombram mais que anjos azuis e espíritos luminosos. São entidades assombrosas. Você já olhou para elas com atenção?
Penso que Deus deve ter sido um artista brincalhão para inventar coisas tão incríveis para se comer. Penso mais: que ele foi gracioso. Deu-nos as coisas incompletas, cruas. Deixou-nos o prazer de inventar a culinária.
Místicos e poetas sabem que o Paraíso está espalhado pelo mundo - mas não conseguimos vê-lo com os olhos que temos. Somos cegos. O Zen Budismo fala da necessidade de se ‘abrir o terceiro olho’. Repentinamente a gente vê o que não via! Não se trata de ver coisas extraordinárias, anjos, aparições, espíritos, seres de um outro mundo. Trata-se de ver esse nosso mundo sob uma nova luz.
via Pavablog
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
A Igreja que não existe mais (1)
Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” At 2:43-47
Na época do surgimento da Igreja do Novo Testamento, a palavra igreja significava, apenas, uma reunião qualquer de um grupo organizado ou não. Assim, o texto nos revela que havia um grupo organizado em torno de sua fé (Todos os que criam estavam unidos) – todos acreditavam em Cristo.
Segundo o texto, os participantes do grupo do Cristo não tinham propriedade pessoal, tudo era de todos (tinham tudo em comum) – os membros desse grupo vendiam suas propriedades e bens e repartiam por todos – e isso era administrado a partir da necessidade de cada um; e se reuniam todos os dias no templo; e pensavam todos do mesmo jeito, primando pelo mesmo padrão de vida (unânimes); e comiam juntos todos os dias, repartidos em casas, que, agora, eram de todos, uma vez que não havia mais propriedade particular; e eram alegres e de coração simples; e viviam a louvar a Deus; e todo o povo gostava deles, e o grupo crescia diariamente. Diariamente, portanto, havia gente acreditando em Cristo, se unindo ao grupo, abrindo mão de suas propriedades e bens e colocando tudo à disposição de todos.
Essa Igreja era a Comunhão dos santos – chamados e trazidos para fora do império das trevas, para servirem ao Criador, no Reino da Luz.
Essa Igreja não precisava orar por necessidades materiais e sociais, bastava contar para os irmãos, que a comunidade resolvia a necessidade deles.
Deus havia respondido, a priori, todas as orações por necessidades materiais e sociais, fazendo surgir uma comunidade solidária.
O pedido: “O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje." (Mt 6.9) estava respondido, e diariamente.
Então, para haver o “pão nosso” não pode haver o pão, o bem ou a propriedade minha, todos os bens e propriedades têm de ser de todos.
Mais tarde, eles elegeram um grupo de pessoas, chamadas de diáconos – garçons, para cuidar disso (At 6.3). Então, diante de qualquer necessidade, bastava procurar os garçons, que a comunidade cuidava de tudo. Era o princípio do direito: se alguém tinha uma necessidade, a comunidade tinha um dever.
Essa Igreja não existe mais!
Continua.
por Ariovaldo Ramos
segunda-feira, 6 de julho de 2009
O mapa do fracasso
Paul Krugman ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2008. Depois, passou a escrever para o jornal “The New York Times”. Em “A Desintegração Americana” (Editora Record), Krugman relata os caminhos que levaram uma economia próspera à bancarrota. A orelha do livro avisa que Krugman “examina como a exuberância cedeu lugar ao pessimismo, como a era dos heróis empreendedores foi substituída pela dos escândalos corporativos e como a responsabilidade fiscal entrou em colapso”. Publicado originalmente em 2003, parece um mapa para o fracasso que agora assombra o mundo inteiro.
O capítulo 1 começa com um texto de 29 de dezembro de 1997, que pergunta o que o mercado andava tramando. Busca saber como “homens e mulheres inteligentes -- e devem ser inteligentes, porque se não fossem, como ficariam ricos? -- podiam fazer tanta bobagem”. Krugman previu que o andar da carruagem da economia acabaria no barranco. E, ironicamente, sugeriu sete posturas para precipitar o mercado no despenhadeiro. Ei-las:
1. Pense a curto prazo. Não projete, não raciocine, para cinco anos. Descarte esse tipo de projeção como excessivamente acadêmica, portanto, desprezível no mundo dos negócios.
2. Seja ambicioso. Tenha como objetivo ganhar e ganhar. Não considere que existam limites para a subida de ações na bolsa. Tente abocanhar os mínimos percentuais das pequenas variações do mercado.
3. Acredite que existe sempre alguém mais tolo do que você. Despreze os outros. Há pouco tempo o mundo corporativo trabalhava com a lógica de que suas estratégias eram seguras porque “sempre haverá alguém suficientemente estúpido para só perceber o que está acontecendo quando for tarde demais”.
4. Acompanhe a manada. Não ouça as vozes discordantes. Pelo contrário, “as poucas e tímidas vozes antagônicas” precisam ser ridicularizadas e silenciadas.
5. Generalize sem limites. Crie preconceitos. Gere reputações. Condene ou louve instituições e pessoas por critérios difusos e subjetivos.
6. Siga a tendência. Procure ver o que está dando certo, copie acriticamente e espere que os resultados se repitam com você.
7. Jogue com o dinheiro dos outros. Preserve sua carreira e tente progredir com o capital alheio.
Os sete pontos de Krugman valem para qualquer outra atividade humana, inclusive a religiosa. Ao detalhar a rota do desastre, ele talvez não tenha atinado para sua pertinência entre os evangélicos. Nem todos os líderes são lobos predadores; muitos não passam de vítimas de um sistema perverso que conspira contra eles. Como cordeiros equivocados, caminham para um matadouro armado pelo sistema que a Bíblia chama de mundo.
Evangelismo a curto prazo compromete a próxima geração. Diversos pastores, ávidos por sucesso, agem como pescadores predatórios. Existem diversas maneiras de pescar: tarrafa, rede, anzol. Cada jeito produz diferentes resultados. Talvez o mais eficaz seja com dinamite: localiza-se o cardume, detona-se a bomba e logo boiarão milhares de peixes. O problema com esse tipo de pesca é que ela destrói o rio para a próxima geração. O barco fica cheio, mas o neto do pescador não conseguirá tirar seu sustento do rio. A sede de lotar o auditório pode transformar o pastor em um pragmático irresponsável, que repetirá: “Não é possível que esteja errado, crescemos como nenhuma outra igreja”. As patacoadas milagreiras, a repetição enfadonha de chavões, as bizarrices sobrenaturais que se observam em muitas igrejas não passam de dinamite que garante o barco repleto no próximo domingo, mas o rio religioso estará vazio no futuro.
Ambição não se restringe à esfera financeira. Alexandre, o Grande, Hitler e tantos outros falharam porque não souberam dizer “basta”. Cobiça existe inclusive entre os sacerdotes. A pretensão de alcançar o mundo, tornar-se o evangelista famoso que afeta uma geração é luciferiano na essência. Muitos pastores perderam a alma nesta busca.
Ao acreditar que só os ingênuos procuram os ambientes religiosos, eles desprezam os auditórios. Pastores repetem as mesmas ilustrações, narram histórias fantásticas inventadas como milagres e pregam sermões ralos. Porém, se permitem este desdém porque se acham mais espertos que os seus ouvintes. Mal sabem que, nas conversas em pizzarias, são ridicularizados pelos jovens.
Acompanhar a manada significa contentar-se com o “status quo”. A posição morna dos muristas que Deus vomitará de sua boca. O mimetismo religioso acontece porque muitos têm preguiça de perguntar a verdade que alicerça o que está sendo feito.Criam-se fronteiras para definir com precisão quem está dentro e quem está fora. Os que estão fora são tratados com desprezo. Preconceitos se formam para que não haja culpa quando for preciso apedrejar.
Ao seguir tendências, modismos passam a ser tratados como projetos que deram certo devido à aplicação de “princípios universais”. Indolentes, repetem o chavão: “Nada se perde, nada se cria, tudo se copia”. Da mesma maneira que os financistas que atolaram o mundo nesta crise, muitos sacerdotes não se dispõem a apostar seu capital nas muitas empreitadas em que se metem. Mobilizam o povo a pagar a conta de seu ufanismo desvairado.
O mundo corporativo e financeiro foi irresponsável por anos. Deflagrou uma crise econômica sem precedentes, queimou trilhões de dólares com socorro a bancos e colocou milhões de trabalhadores na rua, provocando mais miséria. Muitas igrejas seguem os mesmos passos, que talvez gerem um desastre igual ao do mercado financeiro.
“Soli Deo Gloria.”
• Ricardo Gondim é pastor da Assembleia de Deus Betesda no Brasil
O capítulo 1 começa com um texto de 29 de dezembro de 1997, que pergunta o que o mercado andava tramando. Busca saber como “homens e mulheres inteligentes -- e devem ser inteligentes, porque se não fossem, como ficariam ricos? -- podiam fazer tanta bobagem”. Krugman previu que o andar da carruagem da economia acabaria no barranco. E, ironicamente, sugeriu sete posturas para precipitar o mercado no despenhadeiro. Ei-las:
1. Pense a curto prazo. Não projete, não raciocine, para cinco anos. Descarte esse tipo de projeção como excessivamente acadêmica, portanto, desprezível no mundo dos negócios.
2. Seja ambicioso. Tenha como objetivo ganhar e ganhar. Não considere que existam limites para a subida de ações na bolsa. Tente abocanhar os mínimos percentuais das pequenas variações do mercado.
3. Acredite que existe sempre alguém mais tolo do que você. Despreze os outros. Há pouco tempo o mundo corporativo trabalhava com a lógica de que suas estratégias eram seguras porque “sempre haverá alguém suficientemente estúpido para só perceber o que está acontecendo quando for tarde demais”.
4. Acompanhe a manada. Não ouça as vozes discordantes. Pelo contrário, “as poucas e tímidas vozes antagônicas” precisam ser ridicularizadas e silenciadas.
5. Generalize sem limites. Crie preconceitos. Gere reputações. Condene ou louve instituições e pessoas por critérios difusos e subjetivos.
6. Siga a tendência. Procure ver o que está dando certo, copie acriticamente e espere que os resultados se repitam com você.
7. Jogue com o dinheiro dos outros. Preserve sua carreira e tente progredir com o capital alheio.
Os sete pontos de Krugman valem para qualquer outra atividade humana, inclusive a religiosa. Ao detalhar a rota do desastre, ele talvez não tenha atinado para sua pertinência entre os evangélicos. Nem todos os líderes são lobos predadores; muitos não passam de vítimas de um sistema perverso que conspira contra eles. Como cordeiros equivocados, caminham para um matadouro armado pelo sistema que a Bíblia chama de mundo.
Evangelismo a curto prazo compromete a próxima geração. Diversos pastores, ávidos por sucesso, agem como pescadores predatórios. Existem diversas maneiras de pescar: tarrafa, rede, anzol. Cada jeito produz diferentes resultados. Talvez o mais eficaz seja com dinamite: localiza-se o cardume, detona-se a bomba e logo boiarão milhares de peixes. O problema com esse tipo de pesca é que ela destrói o rio para a próxima geração. O barco fica cheio, mas o neto do pescador não conseguirá tirar seu sustento do rio. A sede de lotar o auditório pode transformar o pastor em um pragmático irresponsável, que repetirá: “Não é possível que esteja errado, crescemos como nenhuma outra igreja”. As patacoadas milagreiras, a repetição enfadonha de chavões, as bizarrices sobrenaturais que se observam em muitas igrejas não passam de dinamite que garante o barco repleto no próximo domingo, mas o rio religioso estará vazio no futuro.
Ambição não se restringe à esfera financeira. Alexandre, o Grande, Hitler e tantos outros falharam porque não souberam dizer “basta”. Cobiça existe inclusive entre os sacerdotes. A pretensão de alcançar o mundo, tornar-se o evangelista famoso que afeta uma geração é luciferiano na essência. Muitos pastores perderam a alma nesta busca.
Ao acreditar que só os ingênuos procuram os ambientes religiosos, eles desprezam os auditórios. Pastores repetem as mesmas ilustrações, narram histórias fantásticas inventadas como milagres e pregam sermões ralos. Porém, se permitem este desdém porque se acham mais espertos que os seus ouvintes. Mal sabem que, nas conversas em pizzarias, são ridicularizados pelos jovens.
Acompanhar a manada significa contentar-se com o “status quo”. A posição morna dos muristas que Deus vomitará de sua boca. O mimetismo religioso acontece porque muitos têm preguiça de perguntar a verdade que alicerça o que está sendo feito.Criam-se fronteiras para definir com precisão quem está dentro e quem está fora. Os que estão fora são tratados com desprezo. Preconceitos se formam para que não haja culpa quando for preciso apedrejar.
Ao seguir tendências, modismos passam a ser tratados como projetos que deram certo devido à aplicação de “princípios universais”. Indolentes, repetem o chavão: “Nada se perde, nada se cria, tudo se copia”. Da mesma maneira que os financistas que atolaram o mundo nesta crise, muitos sacerdotes não se dispõem a apostar seu capital nas muitas empreitadas em que se metem. Mobilizam o povo a pagar a conta de seu ufanismo desvairado.
O mundo corporativo e financeiro foi irresponsável por anos. Deflagrou uma crise econômica sem precedentes, queimou trilhões de dólares com socorro a bancos e colocou milhões de trabalhadores na rua, provocando mais miséria. Muitas igrejas seguem os mesmos passos, que talvez gerem um desastre igual ao do mercado financeiro.
“Soli Deo Gloria.”
• Ricardo Gondim é pastor da Assembleia de Deus Betesda no Brasil
segunda-feira, 13 de abril de 2009
A Rivalidade do Anel
SALADIN.
Já que é homem tão sábio, diga-me qual lei,
Qual fé lhe parece ser a melhor?
O judaísmo, o cristianismo ou o islamismo?
NATHAN.
Em tempos idos habitou no leste certo homem
Que de valorosa mão recebeu um anel de infinito valor:
Sua pedra, uma opala que emitia sempre cambiante matiz
E tinha, além disso, a virtude secreta de tornar seu possuidor
Agradável a Deus e os homens;
Diante disso e dessa persuasão ele passou a usá-lo.
Não será estranho saber que o homem do oriente não o tenha tirado do dedo jamais,
E tenha tomado providências para que o anel permanecesse entre seus descendentes como herança perpétua.
Dessa forma ele o deixou para o MAIS AMADO dentre os seus filhos,
Ordenando que esse legasse por sua vez o anel
Ao MAIS QUERIDO entre seus próprios filhos
E que, não importando a ordem do nascimento,
O FILHO FAVORITO, pela virtude suficiente do anel,
Permanecesse sempre o senhor da casa.
Está ouvindo, sultão?
SALADIN.
Estou ouvindo, prossiga.
NATHAN.
Passando de um filho a outro,
O anel chegou finalmente a certo pai
Que tinha três filhos, todos igualmente obedientes,
E que ele não tinha como deixar de amar igualmente.
Às vezes parecia ser este, às vezes esse, às vezes aquele –
segundo cada um recebia, a sua vez, as prodigalidades do seu coração – mais digno do anel,
O qual, com bem-intencionada fraqueza, o pai prometeu, em particular, a cada um.
Assim as coisas seguiram por um tempo,
Mas com a proximidade da morte o velho pai viu-se embaraçado.
Desapontar dois filhos que confiavam na sua promessa ele não podia suportar; quê fazer?
Manda chamar secretamente um joalheiro, do qual,
A partir do modelo do anel verdadeiro, encomenda dois outros,
Ordenando que não poupe esforços ou recursos a fim de fazê-los em tudo idênticos,
Inteiramente idênticos, ao verdadeiro.
O artista conseguiu: os anéis foram trazidos e nem mesmo o olhar do pai
Foi capaz de distinguir qual havia sido o modelo.
Cheio de alegria ele chama seus filhos,
Sai com cada um em particular, a cada um concede sua benção e seu anel, e morre. Está ouvindo?
SALADIN.
Estou, estou, termine a história.
Falta muito?
NATHAN.
Já terminou, sultão.
Porque o que segue pode ser adivinhado sem dificuldade.
Mal é morto o pai, cada um aparece com seu anel
Afirmando ser o senhor da casa.
Surgem intriga, discussão, conflito – tudo inútil,
Porque o verdadeiro anel não podia ser mais distinguido entre os outros
Do que, hoje em dia, pode ser discernida entre as outras qual é a verdadeira fé.
SALADIN.
Mas como? Essa é sua resposta à minha pergunta?
NATHAN.
Não, mas serve como meu pedido de desculpas.
Não consigo decidir entre os anéis que o pai mandou expressamente fazer
Para que fossem indistinguíveis um do outro.
SALADIN.
Os anéis – não me venha com brincadeiras!
É evidente que as religiões que nomeei podem ser distinguidas umas das outras
Mesmo em coisas como vestimenta, comida e bebida.
NATHAN.
Mas não o que baste como prova irrefutável.
Não são todas fundamentadas na história, tradicional ou escrita?
A história deve ser recebida na confiança, não é?
Em quem deveríamos confiar?
No nosso próprio povo, por certo, nos homems cujo sangue somos nós neles,
Que desde a infância nos dão provas de amor,
Que nunca nos enganaram, a não ser quando nos era mais benéfico sermos enganados.
Como posso crer menos nos meus antepassados do que você nos seus?
Como posso pedir de você que duvide dos seus antepassados para que os meus recebam o louvor da verdade?
É o mesmo com os cristãos.
SALADIN.
Pelo Deus vivo, o homem está certo.
Devo calar.
NATHAN.
Voltando aos anéis, como eu disse, os filhos reclamaram.
Cada um jurou ao juiz ter recebido seu anel diretamente das mãos do pai, como era de fato o caso,
Depois de ter obtido há muito tempo a promessa do pai de que um dia o anel seria seu, como era também o caso.
O pai, garantiu cada um, não poderia ter agido com falsidade com ele;
Antes de suspeitar de tal pai, por mais que estivesse disposto a julgar com caridade seus irmãos, estaria pronto a acusá-los de traiçoeira falsificação.
SALADIN.
Ah, e o juiz, quero saber o que você vai fazer o juiz dizer.
Vamos, prossiga.
NATHAN.
O juiz disse, Sem chamar o pai diante da minha tribuna
Não tenho como proferir a sentença.
Devo dispor-me a resolver enigmas? Devo esperar que o verdadeiro anel abra os lábios para testemunhar?
Mas esperem – vocês afirmam que o anel verdadeiro
Tem o poder secreto de fazer seu possuidor
Amado por Deus e pelos homens. Seja esse o árbitro.
Qual de vocês, irmãos, ama mais os outros dois?
Não respondem?
Esses anéis geradores de amor agem só internamente, não externamente? Cada um de vocês só é capaz de amar a si mesmo?
Enganadores enganados, é o que vocês são.
Nenhum dos anéis é verdadeiro.
O verdadeiro anel talvez tenha se perdido;
A fim de ocultar ou corrigir a sua perda,
O pai de vocês encomendou três para compensar um.
SALADIN.
Ah, perfeito! Perfeito!
NATHAN.
Então, prosseguiu o juiz,
Se aceitam um conselho ao invés de uma sentença,
Eis meu conselho a vocês: tomem as coisas como são.
Cada um de vocês tem um anel que lhe foi dado pelo pai,
E cada um crê que o seu seja o verdadeiro.
É possível que o pai tenha escolhido não mais tolerar a tirania do anel único.
O que é certo é que, por muito amá-los
E por amá-los da mesma forma,
Não lhe era possível contentar-se em favorecer um para que se tornasse opressor de dois.
Sinta-se cada um honrado por essa livre demonstração de afeto, não distorcida pelo preconceito.
Procure cada um rivalizar com seu irmão na demonstração da virtude do anel;
Ao poder dele acrescentem gentileza, benevolência e longanimidade,
bem como entrega interior à divindade.
Se as virtudes do anel continuarem a serem exibidas entre os filhos de seus filhos
Depois de mil anos, compareçam diante desta tribuna;
Alguém maior do que eu tomará assento nela, e ele decidirá.
O judeu Nathan conversa com o muçulmano Saladin na peça do cristão Ephraim Lessing,
Nathan, o Sábio (1779). Lessing compôs o personagem de Nathan tomando por base
seu amigo judeu Moses Mendelssohn (avô do compositor Félix).
fonte: baciadasalmas
Já que é homem tão sábio, diga-me qual lei,
Qual fé lhe parece ser a melhor?
O judaísmo, o cristianismo ou o islamismo?
NATHAN.
Em tempos idos habitou no leste certo homem
Que de valorosa mão recebeu um anel de infinito valor:
Sua pedra, uma opala que emitia sempre cambiante matiz
E tinha, além disso, a virtude secreta de tornar seu possuidor
Agradável a Deus e os homens;
Diante disso e dessa persuasão ele passou a usá-lo.
Não será estranho saber que o homem do oriente não o tenha tirado do dedo jamais,
E tenha tomado providências para que o anel permanecesse entre seus descendentes como herança perpétua.
Dessa forma ele o deixou para o MAIS AMADO dentre os seus filhos,
Ordenando que esse legasse por sua vez o anel
Ao MAIS QUERIDO entre seus próprios filhos
E que, não importando a ordem do nascimento,
O FILHO FAVORITO, pela virtude suficiente do anel,
Permanecesse sempre o senhor da casa.
Está ouvindo, sultão?
SALADIN.
Estou ouvindo, prossiga.
NATHAN.
Passando de um filho a outro,
O anel chegou finalmente a certo pai
Que tinha três filhos, todos igualmente obedientes,
E que ele não tinha como deixar de amar igualmente.
Às vezes parecia ser este, às vezes esse, às vezes aquele –
segundo cada um recebia, a sua vez, as prodigalidades do seu coração – mais digno do anel,
O qual, com bem-intencionada fraqueza, o pai prometeu, em particular, a cada um.
Assim as coisas seguiram por um tempo,
Mas com a proximidade da morte o velho pai viu-se embaraçado.
Desapontar dois filhos que confiavam na sua promessa ele não podia suportar; quê fazer?
Manda chamar secretamente um joalheiro, do qual,
A partir do modelo do anel verdadeiro, encomenda dois outros,
Ordenando que não poupe esforços ou recursos a fim de fazê-los em tudo idênticos,
Inteiramente idênticos, ao verdadeiro.
O artista conseguiu: os anéis foram trazidos e nem mesmo o olhar do pai
Foi capaz de distinguir qual havia sido o modelo.
Cheio de alegria ele chama seus filhos,
Sai com cada um em particular, a cada um concede sua benção e seu anel, e morre. Está ouvindo?
SALADIN.
Estou, estou, termine a história.
Falta muito?
NATHAN.
Já terminou, sultão.
Porque o que segue pode ser adivinhado sem dificuldade.
Mal é morto o pai, cada um aparece com seu anel
Afirmando ser o senhor da casa.
Surgem intriga, discussão, conflito – tudo inútil,
Porque o verdadeiro anel não podia ser mais distinguido entre os outros
Do que, hoje em dia, pode ser discernida entre as outras qual é a verdadeira fé.
SALADIN.
Mas como? Essa é sua resposta à minha pergunta?
NATHAN.
Não, mas serve como meu pedido de desculpas.
Não consigo decidir entre os anéis que o pai mandou expressamente fazer
Para que fossem indistinguíveis um do outro.
SALADIN.
Os anéis – não me venha com brincadeiras!
É evidente que as religiões que nomeei podem ser distinguidas umas das outras
Mesmo em coisas como vestimenta, comida e bebida.
NATHAN.
Mas não o que baste como prova irrefutável.
Não são todas fundamentadas na história, tradicional ou escrita?
A história deve ser recebida na confiança, não é?
Em quem deveríamos confiar?
No nosso próprio povo, por certo, nos homems cujo sangue somos nós neles,
Que desde a infância nos dão provas de amor,
Que nunca nos enganaram, a não ser quando nos era mais benéfico sermos enganados.
Como posso crer menos nos meus antepassados do que você nos seus?
Como posso pedir de você que duvide dos seus antepassados para que os meus recebam o louvor da verdade?
É o mesmo com os cristãos.
SALADIN.
Pelo Deus vivo, o homem está certo.
Devo calar.
NATHAN.
Voltando aos anéis, como eu disse, os filhos reclamaram.
Cada um jurou ao juiz ter recebido seu anel diretamente das mãos do pai, como era de fato o caso,
Depois de ter obtido há muito tempo a promessa do pai de que um dia o anel seria seu, como era também o caso.
O pai, garantiu cada um, não poderia ter agido com falsidade com ele;
Antes de suspeitar de tal pai, por mais que estivesse disposto a julgar com caridade seus irmãos, estaria pronto a acusá-los de traiçoeira falsificação.
SALADIN.
Ah, e o juiz, quero saber o que você vai fazer o juiz dizer.
Vamos, prossiga.
NATHAN.
O juiz disse, Sem chamar o pai diante da minha tribuna
Não tenho como proferir a sentença.
Devo dispor-me a resolver enigmas? Devo esperar que o verdadeiro anel abra os lábios para testemunhar?
Mas esperem – vocês afirmam que o anel verdadeiro
Tem o poder secreto de fazer seu possuidor
Amado por Deus e pelos homens. Seja esse o árbitro.
Qual de vocês, irmãos, ama mais os outros dois?
Não respondem?
Esses anéis geradores de amor agem só internamente, não externamente? Cada um de vocês só é capaz de amar a si mesmo?
Enganadores enganados, é o que vocês são.
Nenhum dos anéis é verdadeiro.
O verdadeiro anel talvez tenha se perdido;
A fim de ocultar ou corrigir a sua perda,
O pai de vocês encomendou três para compensar um.
SALADIN.
Ah, perfeito! Perfeito!
NATHAN.
Então, prosseguiu o juiz,
Se aceitam um conselho ao invés de uma sentença,
Eis meu conselho a vocês: tomem as coisas como são.
Cada um de vocês tem um anel que lhe foi dado pelo pai,
E cada um crê que o seu seja o verdadeiro.
É possível que o pai tenha escolhido não mais tolerar a tirania do anel único.
O que é certo é que, por muito amá-los
E por amá-los da mesma forma,
Não lhe era possível contentar-se em favorecer um para que se tornasse opressor de dois.
Sinta-se cada um honrado por essa livre demonstração de afeto, não distorcida pelo preconceito.
Procure cada um rivalizar com seu irmão na demonstração da virtude do anel;
Ao poder dele acrescentem gentileza, benevolência e longanimidade,
bem como entrega interior à divindade.
Se as virtudes do anel continuarem a serem exibidas entre os filhos de seus filhos
Depois de mil anos, compareçam diante desta tribuna;
Alguém maior do que eu tomará assento nela, e ele decidirá.
O judeu Nathan conversa com o muçulmano Saladin na peça do cristão Ephraim Lessing,
Nathan, o Sábio (1779). Lessing compôs o personagem de Nathan tomando por base
seu amigo judeu Moses Mendelssohn (avô do compositor Félix).
fonte: baciadasalmas
quarta-feira, 25 de março de 2009
Quando só rezar não resolve
Piloto que começou a rezar enquanto avião caía é condenado na Itália
Um piloto acusado de ter começado a rezar no lugar de tomar medidas de emergência para evitar que seu avião caísse foi condenado a 10 anos de prisão por um tribunal italiano na última segunda-feira.
O tunisiano Chafik Gharby estava no comando de um avião da companhia aérea Tuninter quando a aeronave teve problemas e acabou caindo no mar na costa da Sicília, em agosto de 2005, matando 16 das 39 pessoas a bordo.
O tribunal considerou que um problema no contador de combustível foi em parte responsável pelo acidente. O piloto, no entanto, foi condenado a 10 anos de prisão por homicídio culposo, de acordo o jornal italiano La Repubblica.
Segundo os promotores, quando os motores do avião começaram a falhar, o piloto entrou em pânico, começando a rezar no lugar de tomar as medidas de emergência.
Depois disso, ele teria optado por fazer um pouso forçado no mar Mediterrâneo ao invés de tentar alcançar o aeroporto mais próximo.
Outras seis pessoas, incluindo o copiloto e o presidente da companhia aérea, foram condenadas a penas que vão de oito a 10 anos de detenção.
Os réus, no entanto, ainda podem apelar das sentenças e permanecerão em liberdade até que o processo termine.
Desastre
O bimotor da companhia Tuninter viajava da cidade italiana de Bari para a ilha de Djerba, na Tunísia, no dia 6 de agosto de 2005.
Após ficar sem combustível, a aeronave caiu no mar, a cerca de 13 km da costa da Sicília.
Dos 34 passageiros e cinco membros da tripulação, apenas 23 sobreviveram.
Muitos tiveram que nadar para se salvar, enquanto outros se agarraram a partes flutuantes da fuselagem.
A Comissão Italiana de Segurança em Voos descobriu em 2007 que o avião ficou sem combustível porque não foi completamente abastecido antes de deixar Bari.
Isto teria acontecido por causa de um problema no contador de combustível que, havia sido instalado no dia anterior.
O aparelho instalado havia sido fabricado para a utilização em aeronaves do mesmo modelo, mas com tanques de combustível menores.
fonte: bbcbrasil
segunda-feira, 23 de março de 2009
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Ateístas britânicos em delírio
Na cidade onde a Confissão de Fé de Westminster (1646) foi redigida, onde viveram John Wesley (1703-1791), o fundador do metodismo, William Booth (1829-1912), o fundador do Exército de Salvação, e Charles Spurgeon (1834-1892), o “príncipe dos pregadores evangélicos”, duzentos ônibus urbanos (além de outros seiscentos no resto do país) ostentam cartazes com os seguintes dizeres: “There’s probably no God. Now stop worrying and enjoy your life” (Provavelmente, Deus não existe. Agora, pare de se preocupar e curta a vida).
A campanha ateísta que custou 195 mil dólares é uma iniciativa da Associação Humanista Britânica em reação aos pôsteres evangélicos sobre a salvação em Cristo e conta com o apoio do biólogo ateu Richard Dawkins, autor de Deus, Um Delírio. O projeto, que começou no dia 6 de fevereiro e vai até o mês de abril, só não foi mais ostensivo e direto porque a lei proíbe.
O que aconteceu em Londres faz lembrar o Salmo 2, o mesmo que foi citado na oração da igreja primitiva (At 4.25-26). Esse Salmo traz à tona a velha aspiração humana de livrar-se da existência e da autoridade de Deus: “Os líderes das nações se reuniram e traçaram planos para derrotar o Senhor e seu Escolhido”, tomando a seguinte decisão: “Vamos quebrar essas correntes e acabar com essa escravidão a Deus” (Sl 2.2-3, BV).
É impossível não relacionar a proposta das faixas e dos pôsteres na Inglaterra com a contraproposta do último capítulo de Eclesiastes. Enquanto a Associação Humanista Britânica nos diz que devemos curtir a vida à vontade, já que não há quem temer, o sábio é conclusivo: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, porque isso é o essencial para o homem” (Ec 12.13).
Elben César na Ultimato
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Aos mais que perfeitos
Àqueles que sabem, com toda certeza, tudo que se passa na alma e no corpo da jovem Paula Oliveira;
Àqueles que têm absoluta certeza de que na Suíça tudo corre no melhor dos mundos e que os suíços não têm queixas, nem problemas;
Àqueles que sabem que como o Brasil anda errando muito em matéria de Política Externa, não pode acertar nem uma vez;
Àqueles que pensam que como nós somos ínfimos em matéria de Direitos Humanos, não devemos zelar para que lá fora, no país de Cocagne, cuidem bem de uma jovem brasileira que sofre;
Àqueles com visão tão perfeita que, embora morando em uma cobertura diante do mar de Copacabana – mar alto – vêm, “através daquela poça”, Niterói, a cidade que fica do outro lado da baía e que só é visível, para os que não são mais-que-perfeitos, por quem está diante da Baía de Guanabara;
Àqueles que confundem partidarismos políticos com vida;
Àqueles que têm certeza do erro do vizinho, sobretudo se o gramado dele é mais verde;
Enfim, aos que nunca se enganam e aos que, fingindo embora amar o mundo, odeiam quem lá anda e quem não usa o mesmo fardamento espiritual,
dedico:
“Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.
Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!”.
Fernando Pessoa, 5-9-1934.
fonte: Noblat
Àqueles que têm absoluta certeza de que na Suíça tudo corre no melhor dos mundos e que os suíços não têm queixas, nem problemas;
Àqueles que sabem que como o Brasil anda errando muito em matéria de Política Externa, não pode acertar nem uma vez;
Àqueles que pensam que como nós somos ínfimos em matéria de Direitos Humanos, não devemos zelar para que lá fora, no país de Cocagne, cuidem bem de uma jovem brasileira que sofre;
Àqueles com visão tão perfeita que, embora morando em uma cobertura diante do mar de Copacabana – mar alto – vêm, “através daquela poça”, Niterói, a cidade que fica do outro lado da baía e que só é visível, para os que não são mais-que-perfeitos, por quem está diante da Baía de Guanabara;
Àqueles que confundem partidarismos políticos com vida;
Àqueles que têm certeza do erro do vizinho, sobretudo se o gramado dele é mais verde;
Enfim, aos que nunca se enganam e aos que, fingindo embora amar o mundo, odeiam quem lá anda e quem não usa o mesmo fardamento espiritual,
dedico:
“Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.
Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!”.
Fernando Pessoa, 5-9-1934.
fonte: Noblat
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Max tinha razão ?
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado" (Karl Marx, in Das Kapital, 1867)
fonte; Noblat
fonte; Noblat
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
DEZ DICAS PARA BARACK OBAMA
Bob Woodward – o famoso jornalista do Washington Post que, junto com Carl Bernstein, revelou o escândalo Watergarte que culminou com a renúncia de Richard Nixon – escreveu 4 livros sobre George Bush. Recentemente ele publicou uma lista de 10 lições que Barack Obama e sua equipe podem aprender com a desastrada gestão de Bush na Casa Branca. Segundo Woodward, é responsabilidade do presidente:
1. Definir o tom do relacionamento entre os membros da sua equipe. Não se pode ser passivo nem tolerar divisões virulentas;
2. Insistir para que todos se pronunciem abertamente uns diante dos outros, especialmente quando houver discordâncias veementes;
3. Fazer a lição de casa para dominar as idéias e conceitos fundamentais por trás das medidas que adota;
4. Fazer com que as pessoas exponham seus pontos de vista e se certificar que todas as más notícias cheguem ao Salão oval (escritório do presidente na Casa Branca);
5. Fomentar uma cultura de ceticismos e dúvidas;
6. Confrontar os dados contraditórios que recebe com rigor;
7. Contar a verdade nua e crua ao público, mesmo que isso signifique dar notícias muito ruins;
8. Entender que motivos justos não bastam para garantir eficácia política;
9. Insistir em pensamento estratégico;
10. Abraçar a transparência.
Você acha que essas dicas são válidas apenas para o Barack Obama? Na empresa onde você trabalha, os líderes praticam essas dicas? E para os políticos brasileiros em posição executiva (presidente, governadores, prefeitos) você acha que essas dicas devem ser úteis?
fonte:Blogdolider
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
sábado, 31 de janeiro de 2009
Receita para uma igreja bem sucedida
Gabriel Andrada é jovem, seminarista, recém casado, e cheio de ideais. Evangélico desde o berço, diz que só se converteu de fato com 17 anos em um acampamento de carnaval. Desde a experiência de conversão, que o levou às lágrimas, participa de eventos evangelísticos de sua igreja. Agora se sente vocacionado para ser pastor. Ávido por ser “usado” por Deus, Gabriel matriculou-se em um pequeno instituto bíblico.
Gabriel me conheceu na internet e escreveu pedindo ajuda. Precisa que eu lhe ensine o “caminho das pedras” para começar uma igreja do zero. Pensei, pensei! Sem conhecê-lo, sem saber exatamente aonde o noviço quer chegar, resolvi correr o risco de responder. Disse que para uma igreja ser bem sucedida no Brasil são necessários a combinação de pelo menos dois, de quatro ingredientes.
1) Um pastor carismático. Que tenha traquejo para falar em público com desenvoltura. Que cante afinado, ou que pelo menos comece os hinos no tom certo. Que tenha boa memória para decorar versículos e saiba citá-los sem tomar fôlego. Que seja simpático e bem humorado no trato pessoal.
2) Um bom prédio em uma boa localização. Que a igreja seja em um lugar de fácil acesso. Que tenha bom estacionamento. Que seja confortável, preferivelmente com cadeiras acolchoadas, climatizado com ar condicionado. Que os banheiros limpos não cheirem a creolina.
3) Acesso à mídia. Que a nova igreja tenha programa de rádio ou de televisão. Mas que a programação ressalte as qualidades especiais do líder como o apóstolo escolhido de Deus para os últimos dias. Que repita sem parar que a igreja é especial, diferente de todas as outras. É bom que o locutor fale em línguas estranhas (glossolalia) e profetize sobre detalhes da vida dos crentes. Que crie uma aura de “poder” pentecostal e curiosidade nas pessoas de comparecerem aos cultos.
4) Teologia da Prosperidade. Que o pastor não tenha escrúpulo de prometer milagre à granel. Que a maior parte do culto seja gasto colhendo testemunhos de gente que enricou com as campanhas dos sete dias, com os jejuns da conquista, com as rosas santas, com os cultos dos Gideões, com as maratonas de oração. Quanto mais relatos, melhor.
Ressalto. Gabriel não precisa se valer de todos os pontos para se tornar o novo fenômeno gospel brasileiro. Entretanto, sem o quarto ingrediente, ele não vai a lugar nenhum. Basta que combine qualquer um com o último e seguramente se tornará um forte concorrente nos disputadíssimo mercado gospel.
Entretanto, como vai concorrer com expoentes bem consolidados, terá que trabalhar muito. Talvez precise fazer o programa de rádio ou de televisão na madrugada. No começo, para pagar o horário, terá que fazer merchandise de Ginka Biloba. Gabriel não deve ter receio de oferecer, por uma pequena oferta, lenço ungido, óleo sagrado ou água do rio Jordão. Se necessário, pode até vender cadernos escolares com a capa espiritual; tipo, um rapaz surfando e uma frase ao lado: “Cristo é ‘sur-ficiente’ para mim”.
Não sei se Gabriel entenderá a minha ironia. Caso leve os meus conselhos a sério, logo teremos uma nova igreja de nome bizarro. Contudo, quando estiver nos píncaros da glória, todos saberão que a trajetória de Gabriel Andrada não foi tão espiritual quanto se poderia supor. “Há algo de podre no reino da Dinamarca” – Shakespeare.
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil
via; bomlider
Gabriel me conheceu na internet e escreveu pedindo ajuda. Precisa que eu lhe ensine o “caminho das pedras” para começar uma igreja do zero. Pensei, pensei! Sem conhecê-lo, sem saber exatamente aonde o noviço quer chegar, resolvi correr o risco de responder. Disse que para uma igreja ser bem sucedida no Brasil são necessários a combinação de pelo menos dois, de quatro ingredientes.
1) Um pastor carismático. Que tenha traquejo para falar em público com desenvoltura. Que cante afinado, ou que pelo menos comece os hinos no tom certo. Que tenha boa memória para decorar versículos e saiba citá-los sem tomar fôlego. Que seja simpático e bem humorado no trato pessoal.
2) Um bom prédio em uma boa localização. Que a igreja seja em um lugar de fácil acesso. Que tenha bom estacionamento. Que seja confortável, preferivelmente com cadeiras acolchoadas, climatizado com ar condicionado. Que os banheiros limpos não cheirem a creolina.
3) Acesso à mídia. Que a nova igreja tenha programa de rádio ou de televisão. Mas que a programação ressalte as qualidades especiais do líder como o apóstolo escolhido de Deus para os últimos dias. Que repita sem parar que a igreja é especial, diferente de todas as outras. É bom que o locutor fale em línguas estranhas (glossolalia) e profetize sobre detalhes da vida dos crentes. Que crie uma aura de “poder” pentecostal e curiosidade nas pessoas de comparecerem aos cultos.
4) Teologia da Prosperidade. Que o pastor não tenha escrúpulo de prometer milagre à granel. Que a maior parte do culto seja gasto colhendo testemunhos de gente que enricou com as campanhas dos sete dias, com os jejuns da conquista, com as rosas santas, com os cultos dos Gideões, com as maratonas de oração. Quanto mais relatos, melhor.
Ressalto. Gabriel não precisa se valer de todos os pontos para se tornar o novo fenômeno gospel brasileiro. Entretanto, sem o quarto ingrediente, ele não vai a lugar nenhum. Basta que combine qualquer um com o último e seguramente se tornará um forte concorrente nos disputadíssimo mercado gospel.
Entretanto, como vai concorrer com expoentes bem consolidados, terá que trabalhar muito. Talvez precise fazer o programa de rádio ou de televisão na madrugada. No começo, para pagar o horário, terá que fazer merchandise de Ginka Biloba. Gabriel não deve ter receio de oferecer, por uma pequena oferta, lenço ungido, óleo sagrado ou água do rio Jordão. Se necessário, pode até vender cadernos escolares com a capa espiritual; tipo, um rapaz surfando e uma frase ao lado: “Cristo é ‘sur-ficiente’ para mim”.
Não sei se Gabriel entenderá a minha ironia. Caso leve os meus conselhos a sério, logo teremos uma nova igreja de nome bizarro. Contudo, quando estiver nos píncaros da glória, todos saberão que a trajetória de Gabriel Andrada não foi tão espiritual quanto se poderia supor. “Há algo de podre no reino da Dinamarca” – Shakespeare.
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil
via; bomlider
Estudo do BID relaciona novelas a divórcios no Brasil
Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugere uma ligação entre as populares novelas da TV Globo e um aumento no número de divórcios no Brasil nas últimas décadas.
Na pesquisa, foi feito um cruzamento de informações extraídas de censos nos anos 70, 80 e 90 e dados sobre a expansão do sinal da Globo – cujas novelas chegavam a 98% dos municípios do país na década de 90.
Segundo os autores do estudo, Alberto Chong e Eliana La Ferrara, “a parcela de mulheres que se separaram ou se divorciaram aumenta significativamente depois que o sinal da Globo se torna disponível” nas cidades do país.
Além disso, a pesquisa descobriu que esse efeito é mais forte em municípios menores, onde o sinal é captado por uma parcela mais alta da população local.
Instrução
Os resultados sugerem que essas áreas apresentaram um aumento de 0,1 a 0,2 ponto percentual na porcentagem de mulheres de 15 a 49 anos que são divorciadas ou separadas.
"O aumento é pequeno, mas estatisticamente significativo", afirmou Chong.
Os pesquisadores vão além e dizem que o impacto é comparável ao de um aumento em seis vezes no nível de instrução de uma mulher. A porcentagem de mulheres divorciadas cresce com a escolaridade.
O enredo das novelas freqüentemente inclui críticas a valores tradicionais e, desde os anos 60, uma porcentagem significativa das personagens femininas não reflete os papéis tradicionais de comportamento reservados às mulheres na sociedade.
Foram analisadas 115 novelas transmitidas pela Globo entre 1965 e 1999. Nelas, 62% das principais personagens femininas não tinham filhos e 26% eram infiéis a seus parceiros.
Nas últimas décadas, a taxa de divórcios aumentou muito no Brasil, apesar do estigma associado às separações. Isso, segundo os pesquisadores, torna o país um “caso interessante de estudo”.
Segundo dados divulgados pela ONU, os divórcios pularam de 3,3 para cada 100 casamentos em 1984 para 17,7 em 2002.
“A exposição a estilos de vida modernos mostrados na TV, a funções desempenhadas por mulheres emancipadas e a uma crítica aos valores tradicionais mostrou estar associada aos aumentos nas frações de mulheres separadas e divorciadas nas áreas municipais brasileiras”, diz a pesquisa.
fonte: bbcbrasil
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Os estrangeiros que são todos
Certo de estar a ponto de ferir a sensibilidade de alguns, quero deixar clara minha posição sobre determinado assunto: o Estado de Israel não representa qualquer continuidade, mesmo que honorária, com a tradição religiosa judaico-cristã registrada nas duas metades desiguais da Bíblia. Historicamente e espiritualmente falando o Estado de Israel não representa a religião que se convencionou chamar de judaísmo, e creio que pelo menos lá todos sabem disso. Há muitos judeus devotos ao redor do mundo, muitos desses em Israel, mas não cabe identificar israelitas com israelenses ou o associar o Estado de Israel à Terra Prometida (e muito menos ao reino de Davi); qualquer tentativa em contrário é engano ou esforço de marketing e de relações públicas, sendo esses últimos patrocinados em grande parte pelos Estados Unidos, com o consentimento embaraçado de Israel.
Tenho amigos em Israel e estou muito longe de ser anti-semita; tenho também queridos amigos muçulmanos, e não sou ingênuo o bastante para crer que a tensão entre Israel e o mundo árabe seja simples de recapitular, de equacionar, de assimilar ou de solucionar. Também não tenho qualquer antipatia pelos israelenses que não são judeus, e tampouco creio haver qualquer diferença de mérito entre as categorias igualmente arbitrárias que acabo de mencionar.
Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito.
Tenho ainda a dizer que apenas as guerras me enfurecem mais do que Estados e nações; apenas as guerras soam-me mais atrozes e arbitrárias do que rótulos.
Mas a guerra é um demônio que não pára: seu emblema é o símbolo alquímico das duas salamandras devorando incessantemente uma a cauda da outra. O terrorista de um lado é o herói da resistência do outro. Cada ataque confirma as piores suspeitas que um adversário tem do seu antagonista; cada ofensiva é redimida com novos recrutamentos, que garantem a perpetuação do conflito. Os Estados Unidos permanecem liberando indiscriminadamente o Iraque, fomentando indignação igualmente justificada entre muçulmanos letrados e chãos. Israel, sentindo-se ameaçado como nunca pelo Hezbollah (que é por sua vez patrocinado por implacáveis rancores iranianos e sírios), está atacando de formas sujas e limpas palestinos e libaneses – que estão longe de ser inocentes, mas que morrem com a facilidade atroz de qualquer um – enquanto na América cristãos queimam cópias do Corão em austera homenagem ao Príncipe da Paz. Morrem quase quatrocentos libaneses num único dia da semana passada, ao mesmo tempo em que os israelenses abandonam em massa o norte do país temendo velhos ataques e novas retaliações.
* * *
É comum associar o cristianismo e a mensagem de Jesus a uma compreensão nova, inclusiva e compassiva sobre a natureza do “outro”. Isso é em grande parte muito acertado, mas é bom lembrar por exemplo que “amai o próximo como a ti mesmo” é injunção da Bíblia hebraica – curiosa exigência que precede a Jesus e da qual o judaísmo não prescinde.
Se Deus não faz acepção de pessoas, todos os genocídios são o mesmo.
Na verdade, são inúmeros os mandamentos da Lei de Moisés explicitamente desenhados para proteger o desavisado outro – o estrangeiro – que se encontrasse em terras de Israel. E o motor dessa tolerância, o declarado motivo para essa misericórdia, deveria ser segundo o texto a recorrente lembrança do passado de Israel como povo estrangeiro e oprimido no Egito, antes do Êxodo e da independência e da Lei: “amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito”.
O israelita é dessa forma desafiado constantemente pela sua Lei a recordar a abjeção da sua condição anterior, bem como a dispensar ao estrangeiro a misericórdia que no passado não obteve:
Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Quando segardes a messe da vossa terra, não rebuscareis os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas caídas da vossa sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixareis. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis.
Como o natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
(Levítico 19:10, 23:22, 19:33-34)
Outras passagens sustentam que o verdadeiro patrocinador desse amor tolerante pelo estrangeiro/outro é o caráter singular de Deus, que não aceita suborno e não faz distinção entre as pessoas:
Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno;
que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes.
Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito.
Não aborrecerás o edomita, pois é teu irmão; nem aborrecerás o egípcio, pois estrangeiro foste na sua terra.
Não perverterás o direito do estrangeiro e do órfão; nem tomarás em penhor a roupa da viúva.
Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades e se fartem.
(Deuteronômio 10:17-19, 23:7, 24:17, 26:12)
Porém o mundo dá voltas, e os palestinos são hoje hóspedes impossivelmente incômodos dos israelenses, da mesma forma que Israel é refém do mundo árabe, embora conte com a proteção dos americanos, graças aos quais os iraquianos são também estrangeiros em sua própria terra. Só me resta pedir que Deus proteja os estrangeiros que são todos, porque não posso esperar que judeus e cristãos e muçulmanos honrem suas Escrituras ou neguem sua história.
* * *
Ninguém me venha, finalmente, acusar de anti-semitismo: se Deus não faz acepção de pessoas, todos os genocídios são o mesmo. Quanto a judeus e cristãos e muçulmanos que derramam sangue ao mesmo tempo em que alegam possuir alguma intimidade com a Misericórdia, façam-me um favor: vão para o inferno.
Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém!
(Deuteronômio 27:19)
Publicado originalmente em 25 de julho de 2006
Paulo Brabo na baciadasalmas
Tenho amigos em Israel e estou muito longe de ser anti-semita; tenho também queridos amigos muçulmanos, e não sou ingênuo o bastante para crer que a tensão entre Israel e o mundo árabe seja simples de recapitular, de equacionar, de assimilar ou de solucionar. Também não tenho qualquer antipatia pelos israelenses que não são judeus, e tampouco creio haver qualquer diferença de mérito entre as categorias igualmente arbitrárias que acabo de mencionar.
Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito.
Tenho ainda a dizer que apenas as guerras me enfurecem mais do que Estados e nações; apenas as guerras soam-me mais atrozes e arbitrárias do que rótulos.
Mas a guerra é um demônio que não pára: seu emblema é o símbolo alquímico das duas salamandras devorando incessantemente uma a cauda da outra. O terrorista de um lado é o herói da resistência do outro. Cada ataque confirma as piores suspeitas que um adversário tem do seu antagonista; cada ofensiva é redimida com novos recrutamentos, que garantem a perpetuação do conflito. Os Estados Unidos permanecem liberando indiscriminadamente o Iraque, fomentando indignação igualmente justificada entre muçulmanos letrados e chãos. Israel, sentindo-se ameaçado como nunca pelo Hezbollah (que é por sua vez patrocinado por implacáveis rancores iranianos e sírios), está atacando de formas sujas e limpas palestinos e libaneses – que estão longe de ser inocentes, mas que morrem com a facilidade atroz de qualquer um – enquanto na América cristãos queimam cópias do Corão em austera homenagem ao Príncipe da Paz. Morrem quase quatrocentos libaneses num único dia da semana passada, ao mesmo tempo em que os israelenses abandonam em massa o norte do país temendo velhos ataques e novas retaliações.
* * *
É comum associar o cristianismo e a mensagem de Jesus a uma compreensão nova, inclusiva e compassiva sobre a natureza do “outro”. Isso é em grande parte muito acertado, mas é bom lembrar por exemplo que “amai o próximo como a ti mesmo” é injunção da Bíblia hebraica – curiosa exigência que precede a Jesus e da qual o judaísmo não prescinde.
Se Deus não faz acepção de pessoas, todos os genocídios são o mesmo.
Na verdade, são inúmeros os mandamentos da Lei de Moisés explicitamente desenhados para proteger o desavisado outro – o estrangeiro – que se encontrasse em terras de Israel. E o motor dessa tolerância, o declarado motivo para essa misericórdia, deveria ser segundo o texto a recorrente lembrança do passado de Israel como povo estrangeiro e oprimido no Egito, antes do Êxodo e da independência e da Lei: “amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito”.
O israelita é dessa forma desafiado constantemente pela sua Lei a recordar a abjeção da sua condição anterior, bem como a dispensar ao estrangeiro a misericórdia que no passado não obteve:
Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Quando segardes a messe da vossa terra, não rebuscareis os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas caídas da vossa sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixareis. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis.
Como o natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
(Levítico 19:10, 23:22, 19:33-34)
Outras passagens sustentam que o verdadeiro patrocinador desse amor tolerante pelo estrangeiro/outro é o caráter singular de Deus, que não aceita suborno e não faz distinção entre as pessoas:
Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno;
que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes.
Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito.
Não aborrecerás o edomita, pois é teu irmão; nem aborrecerás o egípcio, pois estrangeiro foste na sua terra.
Não perverterás o direito do estrangeiro e do órfão; nem tomarás em penhor a roupa da viúva.
Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades e se fartem.
(Deuteronômio 10:17-19, 23:7, 24:17, 26:12)
Porém o mundo dá voltas, e os palestinos são hoje hóspedes impossivelmente incômodos dos israelenses, da mesma forma que Israel é refém do mundo árabe, embora conte com a proteção dos americanos, graças aos quais os iraquianos são também estrangeiros em sua própria terra. Só me resta pedir que Deus proteja os estrangeiros que são todos, porque não posso esperar que judeus e cristãos e muçulmanos honrem suas Escrituras ou neguem sua história.
* * *
Ninguém me venha, finalmente, acusar de anti-semitismo: se Deus não faz acepção de pessoas, todos os genocídios são o mesmo. Quanto a judeus e cristãos e muçulmanos que derramam sangue ao mesmo tempo em que alegam possuir alguma intimidade com a Misericórdia, façam-me um favor: vão para o inferno.
Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém!
(Deuteronômio 27:19)
Publicado originalmente em 25 de julho de 2006
Paulo Brabo na baciadasalmas
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
No céu
Não acredito na reencarnação, mas confesso que tenho um medo: o de morrer, ser reencarnado e encontrar reencarnada uma das pessoas com quem vivo discutindo a reencarnação, dizendo que não acredito. E que não perderá a oportunidade de, todas as vezes que nos encontrarmos, gritar:
- Eu não disse?!
Não vai dar para agüentar.
Também me imagino chegando no céu e descobrindo que é tudo exatamente como o descrevem os crentes, ou pelo menos exatamente como o descrevem as anedotas. São Pedro, o portão, os anjos, tudo.
- Eu não acredito no que estou vendo! - direi.
São Pedro entenderá mal minha exclamação e dirá:
- Bacana, né?
- Não. É que eu era ateu e não acreditava em nada disso.
- E agora, acredita?
- Claro.
- Então vai para o inferno - dirá São Pedro, já levando o dedo ao botão que abre o alçapão.
- Mas, por quê? - perguntarei, espantado.
- Adesistas não.
E tem aquela do cara que chega no céu e enquanto preenche a ficha na recepção vê passar dois barbudos conversando animadamente. Começa a perguntar:
- Aqueles dois não são...
- São eles mesmos - diz São Pedro. - Marx e Freud. Na sua caminhada matinal.
- Mas, eles aqui?
- Qual é o problema?
- Era o último lugar em que eu esperava encontrar esses dois. Marx, o materialista ateu, que dizia que a religião era o ópio do povo. Freud, o homem que liquidou com a idéia da alma eterna. No céu?!
- Bom, nossos critérios de admissão são flexíveis...
Nisso Marx e Freud começam a discutir em altos brados.
- O que é isso? - pergunta o recém-chegado.
- Você não conhece o velho ditado? Dois judeus, quatro opiniões diferentes.
- Mas eles parecem que vão se engalfinhar!
- Você devia ver quando Jesus caminha com eles. Aí ninguém se entende.
Outro cara chega no céu entusiasmadíssimo. "Que maravilha!" diz, olhando em volta. A vida eterna. Paz para sempre. Tudo imutável e perfeito.
- É - diz São Pedro. - Mas você devia ver isto aqui nos bons tempos...
Luiz Fernando Verissimo no blog do Noblat
- Eu não disse?!
Não vai dar para agüentar.
Também me imagino chegando no céu e descobrindo que é tudo exatamente como o descrevem os crentes, ou pelo menos exatamente como o descrevem as anedotas. São Pedro, o portão, os anjos, tudo.
- Eu não acredito no que estou vendo! - direi.
São Pedro entenderá mal minha exclamação e dirá:
- Bacana, né?
- Não. É que eu era ateu e não acreditava em nada disso.
- E agora, acredita?
- Claro.
- Então vai para o inferno - dirá São Pedro, já levando o dedo ao botão que abre o alçapão.
- Mas, por quê? - perguntarei, espantado.
- Adesistas não.
E tem aquela do cara que chega no céu e enquanto preenche a ficha na recepção vê passar dois barbudos conversando animadamente. Começa a perguntar:
- Aqueles dois não são...
- São eles mesmos - diz São Pedro. - Marx e Freud. Na sua caminhada matinal.
- Mas, eles aqui?
- Qual é o problema?
- Era o último lugar em que eu esperava encontrar esses dois. Marx, o materialista ateu, que dizia que a religião era o ópio do povo. Freud, o homem que liquidou com a idéia da alma eterna. No céu?!
- Bom, nossos critérios de admissão são flexíveis...
Nisso Marx e Freud começam a discutir em altos brados.
- O que é isso? - pergunta o recém-chegado.
- Você não conhece o velho ditado? Dois judeus, quatro opiniões diferentes.
- Mas eles parecem que vão se engalfinhar!
- Você devia ver quando Jesus caminha com eles. Aí ninguém se entende.
Outro cara chega no céu entusiasmadíssimo. "Que maravilha!" diz, olhando em volta. A vida eterna. Paz para sempre. Tudo imutável e perfeito.
- É - diz São Pedro. - Mas você devia ver isto aqui nos bons tempos...
Luiz Fernando Verissimo no blog do Noblat
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