Àqueles que sabem, com toda certeza, tudo que se passa na alma e no corpo da jovem Paula Oliveira;
Àqueles que têm absoluta certeza de que na Suíça tudo corre no melhor dos mundos e que os suíços não têm queixas, nem problemas;
Àqueles que sabem que como o Brasil anda errando muito em matéria de Política Externa, não pode acertar nem uma vez;
Àqueles que pensam que como nós somos ínfimos em matéria de Direitos Humanos, não devemos zelar para que lá fora, no país de Cocagne, cuidem bem de uma jovem brasileira que sofre;
Àqueles com visão tão perfeita que, embora morando em uma cobertura diante do mar de Copacabana – mar alto – vêm, “através daquela poça”, Niterói, a cidade que fica do outro lado da baía e que só é visível, para os que não são mais-que-perfeitos, por quem está diante da Baía de Guanabara;
Àqueles que confundem partidarismos políticos com vida;
Àqueles que têm certeza do erro do vizinho, sobretudo se o gramado dele é mais verde;
Enfim, aos que nunca se enganam e aos que, fingindo embora amar o mundo, odeiam quem lá anda e quem não usa o mesmo fardamento espiritual,
dedico:
“Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.
Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!”.
Fernando Pessoa, 5-9-1934.
fonte: Noblat
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
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