Quem dá aos pobres empresta a Deus, diz o ditado. Em certos casos, empresta mesmo ao diabo: é o que se vê na cidade de São Paulo, onde há dois anos existe uma campanha estimulando as pessoas a não dar esmolas às crianças na rua. Esse dinheiro tem, de fato, efeitos diabólicos: 1) vicia a criança, dificultando que saia na rua; 2) alimenta quadrilhas de adultos; 3) sustenta a exploração infantil que se assemelha ao trabalho escravo.
Desde que se iniciou a campanha, cujo slogan é "Dê mais que esmola. Dê Futuro", o número de meninos e meninas de rua que vivem ou trabalham nas ruas da cidade caiu em 54%, segundo levantamento que acaba de ser divulgado pela Fipe, uma fundação ligada à USP. Claro que, além de uma mudança na cabeça, ainda que pequena, de quem está acostumado a dar esmola para crianças, achando que faz o bem, há programas mais focados nas famílias e maior distribuição de renda aos mais pobres.
Por conta desses programas combinados com menos esmola, há mais crianças em atividades complementares à escola como contrapartida por terem saído da rua, sem contar o apoio às suas famílias --isso sim pode, quem sabe, tirá-las do vício de mendigar, no qual vivem os mais malignos riscos.
Não se ajudam os pobres com esmolas (nem as oficiais), mas com políticas públicas que estimulem o aprendizado e a geração de renda.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha.
filado de http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u330802.shtml
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
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