terça-feira, 25 de setembro de 2007

Conselhos aos Neo-Inquisidores.
Ricardo Gondim.

Ficou meio indigesto saber que estava na alça de mira dos professores de seminário como o mais recente despirocado da fé. Perturbei-me, confesso, com os desdobramentos do “diz-que-diz-que” das minhas doidices doutrinárias e com os males que esse ambiente poderia trazer ao coração dos simplórios, e das velhinhas que, porventura, me quisessem bem.

Se no começo senti-me bem abalado, depois preocupado, agora tenho vontade de gargalhar. Esse negócio de ainda catalogar e desqualificar o pensamento alheio, é patético. Demarcar os contornos do exercício acadêmico dentro de rótulos não é apenas anacrônico, mas tosco e primitivo. Junto com meu riso frouxo, tenho dó desses estudantes de teologia, formados por professores com massa encefálica do tamanho de uma ervilha.

Para facilitar os neo-Torquemadas, tentarei reescrever o mapa usado pela Inquisição para identificar, processar e queimar quem ousava pensar fora da cartilha da Santa Igreja.

1. Alfinete com precisão os pontos em que a “nova doutrina” se distancia do que foi sempre aceito como verdade.
2. Procure mostrar a perniciosidade da “nova doutrina” e como ela põe em risco a estabilidade e o futuro da fé.
3. Dê um nome à “nova doutrina”; para derrubá-la você precisa colocá-la dentro de contornos bem claros. Ela precisa de um rótulo.
4. Desqualifique as pessoas que defendem a “nova doutrina”; prove por "a+b" que só um desvairado, um inconseqüente, teria coragem de dizer aquele tipo de coisa e que os lúcidos estão na trincheira oposta.
5. Espiritualize sua cruzada contra a “nova doutrina”; diga que ela nasceu no inferno e você, como um augusto defensor da verdade, não pode permanecer calado.
6. Mostre que os argumentos da “nova doutrina” estão calcados em pessoas estranhas à verdadeira fé; mostre que católicos, judeus, ateus e, principalmente, poetas pecadores são citados para referendar a apostasia.
7. Torne o debate emotivo; antes de tratar suas possíveis discordâncias, faça afirmações bem comoventes; por exemplo: “eu não quero ir para o mesmo céu que ele” ou, “se for assim, esse Deus não me serve”.
8. Tire frases do contexto, construa raciocínios distorcidos, sofisme, contanto que o herege seja enfraquecido.
9. Cite obras sem jamais tê-las realmente lido, mencione a crítica feita aos autores e procure fazer com que as pessoas afirmem: “não li, não gostei”.
10. Reduza os conceitos do herege a um clichê ou a deduções bobinhas; assim os simplórios vão concordar com você. Enquanto os Inquisidores trabalharm, eu vou continuar a gargalhar e a celebrar a vida; amando meu próximo e procurando concretizar os sinais do Reino de Deus, que já chegou.
Soli Deo Gloria. filado do site http://www.ricardogondim.com.br/

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