Certo homem, saindo de uma cidade e indo para outra, caiu nas mãos de assaltantes, os quais levaram tudo o que ele tinha e, não contentes, o espancaram deixando-o ali para morrer, num beco escuro, em plena madrugada.
Acontece que passava por ali naquele momento um pastor neo-pentecostal, que estava na rua naquela hora pois saía de uma vigília que encerrava em sua igreja a “Campanha das 7 semanas de qualquer coisa”.
Este pastor, vendo aquele homem, foi até ele, dizendo: “Meu amigo, você está aí sofrendo porque não tem fé. Você precisa aprender fazer a oração que toca o coração de Deus, para ver o agir, participar do mover, sentir o fluir (os pastores desta geração gostam muito dos infinitivos), de Deus. Faça um voto com Deus, pois a Bíblia diz : “fazei prova de mim!” Você precisa participar de um curso sobre “Batalha Espiritual” para aprender a lidar com estas situações, pois as dores que você sente agora são causadas por espíritos maus. Depois de vir à igreja, fazer todos os votos, todos os cursos, participar de todas as campanhas, dizimar, ofertar, aí então você verá os céus se abrindo sobre você, verá chuva de bênçãos, será mais do que vencedor...”
Este papo se estendeu por mais ou menos uma hora... Frases feitas, clichês, citações de versículos de modo a confirmar o que está se dizendo, voz empolada, etc, etc. Mas o homem continuava ali, deitado, sangrando e chorando. Sua dor não passou.
Sai de cena o pastor neo-pentecostal e chega um pastor tradicional. Homem de formação acadêmica invejável, defensor da teologia ortodoxa, que estava na rua até aquela hora pois estava saindo de uma reunião de diretoria de sua igreja, onde tomaram decisões importantes, sendo a principal: a próxima reunião ocorrerá em uma semana...
Este pastor chega até o nosso homem e diz: “Meu amigo, (pastores de todas as correntes gostam de chamar desconhecidos de “amigos”, acho que aprendem isso nos seminários), o seu sofrimento faz parte do plano de Deus em sua vida, ele se encaixa na vontade permissiva de Deus. Verifique em sua vida se este sofrimento não é conseqüência do seu próprio pecado. Tome este sofrimento como oportunidade de você aprimorar sua fé, pois o sofrimento é uma grande chance de você se conhecer melhor. Veja em você se este sofrimento não é decorrente de sua proximidade com a teologia relacional, pois ela é perversa, não aceita a soberania de Deus, e faz com que o homem se afaste da possibilidade de ser salvo...
Este papo se estendeu por mais ou menos uma hora... Nosso homem continuava sofrendo, mas pelo menos teve uma aula e tanto de teologia.
Eis que surge em cena um cristão simples, que vai até aquele homem sangrando, sofrendo e nada lhe diz. Cuida de suas feridas, lhe oferece água, assistência, enfim, faz aquilo que chamamos de “exercer misericórdia”. Leva-o para casa, tranqüiliza sua família, compra remédios e faz tudo o que estava ao seu alcance para minimizar a dor daquele desconhecido.
A pergunta se repete: quem foi o próximo daquele homem?
A resposta: alguém ainda se importa com isso?
Texto de Alexandre Galli
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