sexta-feira, 7 de março de 2008

A NOITE

Um grupo de nós está diante das ruinas que os Alemães tentaram (sem sucesso) apagar, para esconder evidências que seis milhões de Judeus foram fuzilados, postos em câmaras de gás e incinerados em tais locais, somente pelo fato de serem Judeus. Eu penso: se o Gólgota revelou o senso de abandono de Deus de um Judeu, Birkenau multiplica essa angústia pelo menos três milhões e meio de vezes. Para o resto de minha vida, este crematório representará o caso mais poderoso contra Deus, o local onde alguém poderia - com justiça - denunciar, negar, ou (pior ainda) ignorar Deus, o Deus que ficou calado. Qual o sentido de palavras num momento como este? Tantos clamaram a Deus aqui neste lugar e não foram ouvidos. O silêncio humano hoje é a única resposta apropriada ao silêncio divino de ontém. Ficamos em silêncio. Nosso silêncio é ensurdecedor. E então surge - primeiro dos lábios de um homem, Elie Wiesel (no campo onde trinta e cinco anos atrás sua vida, sua família e sua fé foram destruídas), e então em um côro crescente de outros, a maioria Judeus, a grande afirmação: Shema Yisroel, Adonai Elohenu, Adonai Echod. Ouça, Ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é o Único Deus.No lugar onde o nome de Deus poderia ter sido agonizantemente negado, o nome de Deus é agonizantemente afirmado - por aqueles que tinham mais razões para negá-lo. Eu estremeço de tensão entre meu impulso de negar e a decisão deles de afirmar. Porque eu estive em Birkenau, é agora impossível para mim afirmar Deus do modo como eu fazia antes. Porque eu estive em Birkenau com eles, é agora possível para mim afirmar Deus de modos como eu nunca o fiz antes.(Elie Weisel: Messenger to All Humanity por Robert McAfee Brown, páginas 189-190)

É relativamente fácil afirmar Deus quando tudo está bem, o céu está azul, o sol brilhando, as flores dando um colorido especial à nossa volta. Mas a fé verdadeira nos convoca a afirmar Deus, mesmo quando todas as evidências ao nosso redor clamarem o contrário.

Relato de Elie Wiesel
Elie Wiesel tinha apenas quinze anos quando foi levado para os campos de concentração. Judeu devoto, ele viu sua fé em Deus morrer aos poucos, à medida que via seus compatriotas virarem fumaça nas chaminés dos crematórios. Quando terminei de ler o livro, lembrei-me da história verdadeira narrada por Robert McAFee Brown, sobre a experiência que ele teve junto com Elie Wiesel em um dos crematórios de Birkenau, o campo de morte de Auschwitz, num dia cinzento e triste do verão de 1979:

Sandro, 05/03/2008 | Sandro Baggio
filado da Igrejaemergente.com.br

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